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domingo, 18 de setembro de 2016

Perdoem-me os espertos, mas o mundo é dos bobos!

Começo esse texto com um fragmento retirado da Wikipédia que sintetiza quem era o bobo da corte, na Idade Média:

"O bobo da corte, mais conhecido como servo-sião divertia o rei e os áulicos. Declamava poesias, dançava, tocava algum instrumento e era o cerimoniário das festas. De maneira geral era inteligente, atrevido e sagaz. Dizia o que o povo gostaria de dizer ao rei e zombava da corte. Com ironia mostrava as duas faces da realidade, revelando as discordâncias íntimas e expondo as ambições do rei."

Você já se sentiu deslocado (a), não pertencente a um grupo, um "peixe fora d'água", apenas por acreditar em certos valores que hoje não são aprecidados (não como outrora) pela sociedade?

Já abriu a boca para emitir uma opinião e teve de volta uns narizes torcidos e olhares desconfiados?

Já flamulou a bandeira da ética e ficou conhecido (a) como moralista, velho, chato (a), "quer mudar o mundo" etc?

Se suas respostas às questões acima foram um sonoro SIM!, esse texto é pra você, BOBÃO E BOBONA! 

Lá no início, eu trouxe à baila o significado do função do bobo da corte, e esse termo sempre fora usado em tom pejorativo, como alguém ingênuo, besta, burro, idiota, sem noção,  trouxa e por aí vai...mas, a partir de hoje, você vai se olhar no espelho e quase que vislumbrar aquelas fantasias exageradas, chapéus engraçados e vai dizer a si mesmo (a): SOU UM PERFEITO BOBO DA CORTE! 

Explico:   Os bobos acreditam em dias melhores. Pouca gente sabe, mas por trás da maquiagem há cicatrizes e lágrimas, contidas ou não, que fazem o bobo ser mais resiliente. 

Os bobos não são meros otimistas, nem se reduzem a serem realistas. São esperançosos, o que é bem diferente. Sabem que o fracasso existe e vem quando menos se espera (aliás, ele desconfia quando tudo vai indo bem, obrigado), mas não deixam de sonhar e transparecerem seus ideais.
Os bobos se importam! Num mundo onde o "esperto" ama às prestações, finge não estar apaixonado (a) para não ser presa do outro, o bobo vai lá e se entrega. Pula primeiro e confere o paraquedas depois. Como diz a molecada de hoje: "trouxa fazendo trouxisse".
E por se importarem de verdade, sofrem! Não porque são franciscanos, mas gostariam que sua doação de tempo, ombro, suor, ouvido etc, reverberasse em solução ou, no mínimo, que amenizasse a dor do próximo.
Os bobos não economizam de si em favor do outro. Se é para perguntar "vai tudo bem?", é porque quer saber detalhes, não mera formalidade. O bobo liga, manda email, procura, visualiza e responde assim que possível e não faz o joguinho do "se eu correr atrás, vou comer na mão dele (a)!". O bobo, na verdade, é um empático-compulsivo. Quando vê, já está se importando!
Os bobos expõem a sociedade e o poder constituído, pelo jeito "bobo" de criticar, de gritar que algo está errado, ele passa despercebido de alguns desavisados, mas outros acabam entendendo o recado.
Sabe aquele (a) amigo (a) que faz piada com minorias e vulneráveis por que "todo mundo ri"? O bobo da corte não, ele permanece inerte, e devolve com outra piada, com a ironia socrática, e o "esperto" ri junto, sem perceber que foi exposto. Bobos sabem questionar com a acidez própria dos que têm senso crítico apurado. Seu recado não é pra muita gente, mas quem ouve e "saca", dificilmente esquece.
Os bobos amam! Por conhecerem suas fraquezas, procuram amar as limitações do outro. Eu disse "procuram", porque nem sempre conseguem. Mas tentam. Bobos gostam das peculiaridades que tornam seu (a) parceiro (a) único. Bobos procuram (de novo ), amar o que o (a) parceiro (a) tenta esconder, por vergonha,  complexo etc. Bobos são craques nisso: extrair o melhor das pessoas. Fazê-las enxergar que elas são para além delas mesmas.
Bobos são práticos. Seja num cafuné, no preparo de um chá, uma canja, um Tylenol, uma massagem, um silêncio, um colo, eles estão de prontidão. O bobo só não gosta de se sentir inútil. Ele chega a incomodar pelo tanto que estende a mão. É isso! Bobos incomodam!
Bobos incomodam porque jogam luz numa sociedade superficial,  amarga, individualista, egocêntrica, triste, vazia, sem significado, sem ideais nobres. O bobo elucida que as pessoas só precisam ser ouvidas, e se importar hoje é sinônimo de importunar.
O bobo sofre, mas é obstinado.
Bobos não se vendem como perfeitos. Num mundo onde dizer suas fraquezas é pedir para ser pisoteado, o bobo não só as reconhece, como pontua cada uma. O esperto se esquiva e raramente muda de opinião.  O bobo faz autocrítica e sopesa suas crenças na balança da empatia. Os bobos se importam SIM com o que pensam sobre ele, desde que sejam pessoas que o conhecem e o amam apesar dele.

O bobo não precisa diminuir ninguém para ser grande. O que torna o bobo grande é saber que sua insignificância é encantadora, posto que é sincera, ética, e essa pequenez o faz nobre. Ele faz a vez do rei, que julga ser esperto.

Quer mudar o mundo? Comece por si mesmo (a), sendo bobo (a)!
Já temos "espertos" demais e não tem dado certo.

Abraços! Há braços!


sexta-feira, 1 de julho de 2016

Esvaziando-se

"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
 William Shakespeare

*Recebi esse texto de um amigo e resolvi compartilhar.


Num dia você acorda, mesma rotina. Uma passada de água na xícara de ontem, para tomar um café. De ontem também. Requentado. Como seus sonhos. 
Senta-se na cadeira barata, desconfortável. Imagina desenhos na parede branca. Observa o relógio, que algoz, decide não ter pressa. Folheia um livro em qualquer página, um informativo de mercado, um jornal velho. Buscando novidades de uma vida que se vai. 
Escova os dentes. Olha no espelho. Olhos distantes, evitam fitar-se. Você foge do flerte da solidão. Não se encara, não consegue. Cabelo emaranhado, talvez apenas mais arrumado que seus planos. Então você põe aquela roupa que deixara num canto ontem, põe a fantasia da adequação social, a maquiagem do "vou indo" e sai. Não quer sair, mas também não quer voltar. 
Observa o trânsito. Calcula mentalmente a distância do carro e do tempo que você levaria pulando na frente dele. E se não morrer? - Covarde! Nem para isso serve!! - grita seus pensamentos. 
Acena para conhecidos. O Sol da manhã combinando com o amarelo do sorriso. Chega ao trabalho. Acena com a cabeça e vai para o esconderijo (ou mesa, como queiram). Carimba, atende telefone, carimba, lê e-mails. O relógio, de novo, andando como bem entende: no almoço, voa, no expediente, trota. 
O dia chega ao fim (e você pensa: bem que poderia ser o fim do meu expediente vital também!). 
Chega no outro esconderijo, que um dia foi casa. Guarda a fantasia da adequação, limpa a maquiagem do "vou dar um jeito". Requenta um arroz. Joga qualquer coisa em cima para parecer mistura. Zapeia as redes sociais procurando um tempo perdido. Mais rede que social. Mais teia de aranha que rede. Aperta F5. Uma, duas, dez vezes. Abre a fecha o whatsapp querendo ouvir alguém, querendo se encontrar. 

Toma um banho, esperando que a água solva as dores. Encosta na parede e percebe que no rosto escorre outro líquido além da água: um líquido mais quente, salgado, com cada vez mais razão de ser. Ou não.
Põe qualquer pano velho no corpo cansado e se joga na cama, torcendo para aquilo ser um caixão. Mas não é. E pior: não te faz repousar. Encara o teto alvo, um inseto mais corajoso que você se lança à lâmpada. Ele vai morrer em breve. E você? Você não. Precisa prosseguir. Esvaziar-se até as últimas consequências. Sentir o respirar da Solidão sentada à beira da cama. Aperta F5 de novo. Espia o celular. Nada. Apenas você e o "como sair disso tudo". 
Um rolo compressor de pensamentos e frustrações o faz rolar na cama.  

Travesseiro molhado de lágrimas, cochila, sabendo que acordará umas 5 vezes até que outro dia (infelizmente) recomece. 
Você sabe que não chegou ao fim, mas isso não o consola. Há muita bagagem dentro de você para ficar no caminho. Há muito que esvaziar-se, para que o novo te inunda. 

E é esse "novo" (aspas pelo desconhecimento), que o faz levantar outro dia. O mesmo café requentado, a mesma fantasia de adequação. Você não entende o porquê, só sabe que tem que perseverar, tem que esperançar. Em algum lugar você escuta que valerá a pena. Só precisa entender e aceitar o processo com maturidade e serenidade no coração.

Esvaziando-se.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

A Menina que Nasceu Poesia

A Menina que Nasceu Poesia


Não era uma vez, era tanta vez que perdi a conta
Que nesse faz-de-conta a menina nascia
Nascia prosa, verso
Nascia átomo, universo
A Menina nascia poesia
De tão poesia que era
Despertava com as flores
Brincava de saudade
Pintava quadros com amoras e amores
Dormia entre estrelas
Cobria-se com o luar
Até no seu bocejar havia harmonia
Aquela menina que nasceu poesia
Seu pranto era um riacho
Em seus poros emanavam gotas de Afrodite
Acredite, ela carregava o Sol como laço de fita
Sua pele era a expressão do mais belo dia
Na Menina que nasceu Poesia
Quem via a menina correndo descalça
Fazendo das poças de lama seu parceiro de valsa
Não acreditava em tanta alegria
Avisavam: - Menina, assim ocê cai!
Ela, fazendo-se de surda, bailava entre pedriscos
Ah, aqueles pezinhos ariscos!
Rabiscavam o chão com Poesia!

Ao entardecer, a Menina sentava-se
Embaixo de uma pitangueira
E toda faceira, folheava sua vida
Pensava nos amores que teve
Nos sorrisos que ainda ofereceria
Às pessoas que por ela transitavam
E debaixo da pitangueira adormecia
Sonhava então com um mundo
Como uma folha em branco
Onde cada passo seria uma estrofe
Cada amizade uma doce simetria
Sem borrachas para apagar os rascunhos
Assim era o sonho da Menina-Poesia
Perdia a hora de jantar
Sua mãe ralhava: - Cá pra dentro, Poesia!
Vem banhar!
Ela colhia pitangas, fazia da barra do vestido uma bolsa
- Tô indo, manhê!
E corria...corria como se pisasse em brasa
Em cinco segundos estava em casa
Pitangas rolando pra baixo da escadaria
Os pés sujos com a terra-tinta do seu mundo-tela
Deixando rastros de aquarela
A Menina coloria seu lar
A Menina que nasceu Poesia.
O pai chegava do trabalho
Beijava a mãe e perguntava:
- A Poesia adormeceu?
- Faz tempo! – a mãe respondia
- Mas deixou em cima da mesa umas pitangas
Pra você comer depois do jantar
O pai ia ao quarto da Menina
Cobria-lhe o peito, beijava-lhe a testa
Alisava-lhe o cabelo e baixinho dizia:
- Como pode num ser tão pequeno, caber tanta Poesia?
Deixava a porta entreaberta, uma terna luz iluminava a Menina
E com um doce suspiro, o pai se despedia.
A Menina abria um olhinho e sem que o pai escutasse
Respondia sua pergunta:
- É por ser tão pequena que carrego Poesia!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Lições para a Vida que aprendi andando no mato.


Tenho algumas manias. Umas doidas, outras menos doidas. Mas tenho.
Tomar café com leite enquanto almoço é uma delas.
Colocar creme de leite em tudo, também. Na salada, no caldinho de batata, no miojo...fica muito bom!

Outra mania é querer aprender em todo lugar. Quero sempre extrair aprendizados daquilo que vejo, faço...essa, talvez, seja uma mania "normal". Um desses aprendizados quero compartilhar hoje com vocês:

Gosto muito de fazer trilha. Andar sem rumo no meio de florestas, fazendas, campos; enfim, Natureza.

Hoje fiz uma trilha que saiu um pouco da rota. Não sou expert, mas onde ando domino um pouco.
E porque saiu da rota, disso aprendi algumas coisas: Ei-las:

1- Não é porque você domina o assunto, que deve ter excesso de autoconfiança.
Vez ou outra pensamos que certas coisas que iremos enfrentar, por experiência de vida, já "tá dominado". Porém, as mesmas dificuldades nunca aparecem duas vezes do mesmo jeito.
Heráclito disse: "Não se entra duas vezes no mesmo rio". E é verdade! Você não é o mesmo duas vezes, nem o rio o é. Então, por mais "dominada" que esteja a situação, a vida sempre prega peças.
O melhor a se fazer é ter a sensatez e serenidade de enxergar do todo para as partes, a tal visão holística. Assim os obstáculos, inéditos ou não, ficarão menos dificultosos e ganharão a sua medida exata.

2- Para ir mais longe, diminua as expectativas.
Parece paradoxal, mas é quando esperamos menos da vida, mas ela se nos apresenta abundante.
Quando saio para as trilhas, nunca penso chegar em Tocantins (mentira, penso sim! Rsrsrs!) Falando sério, nunca penso em ir tão longe. E quando vejo, ao estilo Paulo Nunes, acabo "fondo" Rsrs.
Eu sempre espero o pior, e a lógica é simples: é mais fácil sermos surpreendidos esperando menos do que o inverso. E claro, menos doloroso.
Difícil treinamento, mas necessário: esperar menos, e a cada conquista, comemorar muito.

3- Não tenha medo de ousar. Tenha medo de ficar parado. 
Por mais que eu goste e conheça um pouco os caminhos que trilho, pra mim eles sempre são novos e por conseguinte, prazerosos. Tem carrapato, espinhos, charcos...mas são gostosos, porque me fazem vencer pequenos obstáculos. Tenho medo do novo sim, mas uso esse medo a meu favor. Já fiz trilhas à noite, nos mesmos lugares onde ando durante o dia. É muito diferente, confesso, mas encaro, gosto desses desafios. E na vida? Um novo emprego, novos amores (ah, novos amores!). Esfriam a barriga, esquentam o rosto, mas há que ser vivido, acabarão por constituir quem somos, e isso é mágico!
Tenho medo de enferrujar, não de girar girar (ou que girem em mim), as engrenagens de uma existência valiosa.

4- Não somos uma ilha, devemos aceitas as mãos que se estendem. 
Hoje aconteceu algo atípico: eu ter que bater palmas numa fazenda, para poder cortar caminho, pois o outro estava difícil e desgastante além da conta. Um gentil homem saiu, me ofereceu água, abriu a porteira para eu atravessar, conversamos um pouco (destino, motivações etc) e parti. Parti grato por saber que há sempre "porteiras" abertas para mim. Já quis ser independente, forte, autossuficiente ...mas sofri e recuei. Preciso sim de muita gente, são os construtores de quem sou. Sou fruto dessas interações.

5- Na trilha ou na vida: quanto menos se leva, mais longe se vai. 
Como podemos medir a riqueza de um homem: pelo que ele tem?
Creio que não. Penso que o melhor aferidor seja "o que a pessoa faz daquilo que ela tem".
Quando faço trilha onde vou voltar no mesmo dia, levo sempre: canivete, pederneira e sal.
Isso é o suficiente para comer qualquer coisa no mato, seja lambaris nos riachos que cruzo, seja rã, bambu, frutas...é o suficiente.
O problema é que por excesso de cautela, queremos nos prevenir de tudo. E o peso da bagagem aumenta.
Desapeguemo-nos do que não agrega, do supérfluo, daquilo que suga nossa energia. Veremos que podemos ir mais longe. Tanto pessoas, lugares, circunstâncias: se nos diminuem, precisam ser evitadas.

6- Saiba a hora de desistir e não tenha vergonha disso. Como disse no início de nossa conversa, minhas trilhas são habituais. Hoje, todavia, não contava com o imprevisto: devido às chuvas, o mato cresceu além do que eu imaginava. E é capim navalha, que pelo nome, você deve imaginar o quanto corta! Rsrs! (Estou com as pernas toda riscadas).
Tive que abortar a missão de ir aonde queria. Com tristeza, porque meu ponto de chegada tem um pomar "esquecido" numa clareira dentro de uma floresta, onde há abacate, pêssego, amora, banana. Iria fazer a festa! Mas não deu. Foi quando me dirigi à fazenda, pedindo para voltar à estrada.
Insistir naquilo que estamos vendo que no ônus é maior que o bônus, não vale a pena.
Não sugiro desistir no primeiro ou no vigésimo obstáculo. Não é questão de "quantos", e sim "por quês" . Vale apenas arrastar relações? Vale a pena permanecer num emprego onde não se é valorizado? É disso que estou falando! Saber a hora de parar é tão nobre quanto insistir.
Precisamos sempre dessa autocrítica, dessa autoavaliação, para não ficarmos reféns de continuar com escolhas só porque elas foram feitas láááááá em 1987.
Tenho feito escolhas novas, desistido de umas antigas. E colocando na balança, meu coração tem agradecido.


Espero, da minha alma, que essas lições lhe sirvam para alguma coisa. Sou um ser em constante reforma, não tenho todas as respostas.

Nas trilhas da vida, quero deixar rastros de generosidade e bondade. Não sou santo, mas esse querer tem me aproximado de pessoas encantadoras.


Vai ver elas trilhavam a mesma esperança que eu. Espero que você seja uma delas,

Abraços!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Sobre dores e relógios: uma reflexão.

Não faz muito tempo e estava sentado em frente ao computador, assistindo às vídeo-aulas da faculdade de Ciências Contábeis. Muitas vídeo-aulas, na verdade. Umas cinco horas.

Levantei-me e notei que dois dedos da mão esquerda estavam dormentes. Chacoalhei a mão e nada. Abri e fechei-a freneticamente, nada.

Pensei: amanhã passa. O amanhã veio, a dor não se foi.

Não sou de ir ao médico. Não quero sermões. (risos).

Mas essa dor me mostrou algumas coisas que resolvi compartilhar:

Nós nem notamos que temos um corpo, no dia a dia. Você lembra do seu joelho? Seu calcanhar?

A engrenagem funciona e nem nos damos conta. A não ser que...

A não ser aconteçam duas coisas: contato.

Quando recebemos carinho ou quando o corpo dói, a gente lembra que as partes existem.

Você esquece que tem axila até que receba cócegas nela. (Eu, pelo menos!)

Você nem se lembra do cabelo até que ganhe um cafuné.

O carinho nos faz lembrar que o corpo está ali, vivo, com sangue correndo nas veias.

Outra coisa que nos faz lembrar que temos partes, membros superiores, inferiores, são as dores.

Sua cabeça existe e você nem nota, mas espere só a enxaqueca chegar!

Seus dedos funcionam numa boa, mas uma farpa chega e muda até sua rotina!!

Assim é com nosso corpo, assim é com nossos relacionamentos.

Frugal dizer, mas só damos valor quando perdemos.

E meus dedos estão aqui, dormentes. Como muita coisa em minha vida. Sonhos, aspirações...estavam normalmente transitando em minha alma, porém o tempo foi anestesiando, anestesiando...e hoje sinto falta.

Meus dedos me fizeram notar que a vida ocorre no Hoje, que não posso viver num passado que foi bom ou num futuro incerto. Não tenho a ampulheta da Vida! O Kronos não me passou procuração!
Hoje são meus dedos, amanhã o que mais? Um acidente de carro? Incêndio? Perda de um ente querido?

Preciso mudar minha disposição emocional, preciso fazer esse exercício (com muita luta interna) de acreditar que a vida longa é um blefe, que preciso amar HOJE, cuidar HOJE, desenterrar sonhos HOJE, porque precisamos do outro, e o outro precisa da gente. Desperdiçar a vida, além de burrice, é falta de empatia. Não nos damos conta que nosso ostracismo não aniquila somente a nós mesmos, mas a quem nos cerca também.

Talvez eu vá ao médico. Se você comentar sermões eu desistirei. (risos).

Mas essa nem é a questão! Na verdade, preciso de um relojoeiro, pra consertar esse tempo que tão infantilmente tento domar.

Desejo o mesmo pra você!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Quem você deixou de ser quando cresceu?

Penso que estamos fazendo a pergunta errada.

Não sou psicólogo, nem tenho a pretensão de diagnosticar perfis, mas observando as crianças, temos alguns indícios de que certas respostas trazem certos padrões. Quando perguntamos a elas o que querem ser quando crescerem, as respostas, mais que profissões, vêm carregadas de ideais, afinidades e vínculos. Ao dizer "Quero ser médica!", uma menina sequer sabe onde está o coração, o rim, o que são artérias, mas ela vê na médica um cuidar, e é isso que ela quer levar adiante. O menino não quer ser jogador de futebol para ter contratos milionários, ele vê no atleta um herói, alguém que tem o nome aclamado onde quer que vá. Mas, crescemos...

Crescemos e os ideais vão dando passagem à realidade, e nossas escolhas são movidas mais pela frieza dos números que pelo calor de um horizonte. Não quero discutir aqui oportunidades e expectativas, minha reflexão vai para um outro canto: onde foi que perdemos o fio da meada da insanidade saudável (se é que posso dizer assim!). Por que vamos nos moldando ao que é normal, diariamente, apenas para sermos aceitos, aprovados, inseridos?

Não corremos mais riscos, nem rabiscos. Estamos num contínuo estou-sendo,  sem pausas, sem erros, sem ousadia, sem loucuras...apenas sendo.

Não quero propôr aquela mudança lair-ribeiriana de vida, não quero que você peça demissão e jogue uma mochila nos ombros, até porque você e eu sabemos que essa mudança a la Sextante não vai durar muito, logo surge outros motivos para nos "adultizarmos" novamente. Falo de pequenos gestos, de uma maturidade mais leve, mais despretensiosa, mais moleca. Falo de rir e chorar sem motivos aparentes, falo de gratidão, de vida nos relacionamentos, de relacionamentos com vida. 

Crianças querem ser muitas coisas, mas acredito que nenhuma delas escolheria apenas-ser. Se elas pudessem escolher e se fosse possível, seriam médicas-crianças, engenheiros-crianças, professoras-crianças, porque o que estraga tudo é a adultisse aguda que nos acomete assim, do nada, e quando vemos, somos um adulto-sendo. 

Tomamos café requentado, lemos revistas velhas em salas de espera, trocamos de canal pra ver se cai algo que nos preenche, rolamos o mouse esperando sei lá o quê, porque ser adulto é isso, é viver num eterno e enfadonho esperando-ser. 

E hoje temos 35, amanhã 50. Esperando, nos adequando, dando jeitos, empurrando...e a vida passa, não fomos nada. Nem médica, nem criança. Nada.

Hoje quero inverter o papel. Quero ser a criança que cansou de responder sobre profissões. Quero perguntar pra mim e pra você:
Quem deixamos de ser quando crescemos? 

Onde foi parar as amizades eternas juradas em cadernos de perguntas da 4ª Série, aquela do "Sol prometeu à Lua uma fita de cetim...?"

Cadê os risos que escapam quando não podem?

Por que tanto formalismos para abrir presentes, sendo que até ontem eu rasgava o papel e a embalagem juntos?

Em algum momento soltamos a mão dessa criança que nos motivou a estarmos aqui até hoje, e ela, em algum lugar, soluça baixinho um pranto contido pelos ternos, gravatas, agendas, celulares, afazeres...apenas esperando que a reencontremos. 

Eu queria ser muita coisa quando era criança, mas jamais sonhei ser o que sou hoje. Um adulto, existindo indiferente a tanta Vida. 

Sei que dá pra mudar. Acredito que, com a pergunta correta, eu possa dar novamente a mão pra criança que um dia perdi dentro em mim.

Espero o mesmo pra você. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

"A hipocrisia é uma impostura refletida". Luc de Clapiers

A moral, os bons costumes e o teatro em tentar ser o que não se é. 

Lembro da minha adolescência no período escolar. Pensava que era o senhor do mundo. Sabia de tudo, ou melhor, fingia que sabia para fazer parte dos "descolados". Procurava levar vantagem, sobretudo contra os superiores (professoras, diretores). Cada vez que eu conseguia obter certa vantagem, pensava: Eu sou o centro! Eu engano o sistema!

Acontece que a vida vai trazendo, além da idade, bagagens. Umas leves, outras pesadas, mas as bagagens estão ali, dentro de nós, para fazer com que recordemos de quem somos e onde fomos.

Uma das coisas que eu mais gostava de fazer no ensino fundamental era colar. Nem tanto pela avaliação ser difícil (modéstia às favas, eu sempre tive notas boas), mas eu era motivado pelo poder que a cola traz. Vem aquela sensação de chamar tudo e todos de tolos, de relapsos em suas vigilâncias. É aquilo do "tudo o que é proibido, ou engorda, ou faz mal ou é pecado". Voltando às bagagens, uma delas foi me mostrando com o tempo que o tolo somos nós, que pensamos estar levando vantagem, todavia não nos damos conta que a cada "jeitinho" dado é um atestado de nossa incompetência em sermos melhores que fomos ontem e piores que amanhã.

Por que vim trazer esse assunto aqui no Blog? Um pouco fui movido pela tristeza, e um outro tanto pelo senso de justiça. Cada caractere digitado aqui é como se minh'alma tomasse um banho de luz. Explico:

Alguns de vocês devem saber (não lembro de ter comentado aqui), que faço faculdade de Direito. Estou indo para o 3º ano. Amo demais essa Ciência, embora às vezes esse amor não se converta em boas notas, principalmente na Disciplina que será objeto desse relato: Direito Penal.

Como eu adoraria gabaritar nessa Disciplina!! Primeiro por satisfação pessoal, depois pela Professora que, a despeito dos desentendimentos, considero alguém apaixonada pelo que faz e consegue transmitir o que sabe sem prepotência. A minha tristeza é também não devolver em notas (apesar que acredito que nota não afere conhecimento), o que ela tão apaixonadamente leciona.

Pois bem, uma das coisas que mais me deixou feliz foi saber que sobre alguns assuntos relativos ao sistema prisional brasileiro, que as desigualdades sociais e regionais são fatores sim a serem considerados para se compreender o crime, que a punição em si só não tem base científica nem biológica que corrobore sua prática como diminuidora de ilícitos, que devemos trabalhar a causa e não os efeitos, enfim, assuntos para outras postagens que oportunamente o farei com prazer.

Esses assuntos nem de longe são unânimes na sala de aula. Infelizmente ainda ouvimos de ACADÊMICOS que "bandido bom é bandido morto", "gosta de bandido, então leva pra casa", e outros chavões engendrados pelo senso rasteiro fomentado pela opinião publicada, o que traz à sala discussões acaloradas, partindo às vezes até para o ad hominem.
Minha Professora de Direito Penal, além de muito estudo (o que nem sempre quer dizer sabedoria), tem um histórico voltado para a compreensão do crime. Ela sim tem contato com crime, eu não. Falo do que leio e vejo, humildemente reconheço isso. Porém não sou deslegitimado  a opinar só porque não "vivo no crime", apenas formulei meus conceitos lendo bastante sobre o assunto e notando que algo está errado, e isso não precisa ser PhD, aliás, nem se precisa estar numa cadeira acadêmica para perceber que quanto mais presídios se constroem, mais o crime aumenta. Estamos falhando em algum ponto dessa meada, mas como disse anteriormente, é assunto para outro dia. O que quero trazer aqui é um episódio que me entristeceu, mas ao mesmo tempo respirei aliviado por saber que estou numa sala com mortais, gente tão suja quanto eu ou quanto os governantes que eles tantos adoram cobrar probidade:

Numa das avaliações a Professora autorizou usar o Vade Mecum, mas enfatizou: Sem comentários, nem de autores nem os próprios. No máximo, pequenas notas nos artigos.

Tal foi a surpresa quando alguém na sala levantou a suspeita de que muitos alunos teriam passado todo o conteúdo de aula para as páginas em branco do referido livro, e isso, claro, causou decepção na Professora, que passou "revistando" Código por Código, mas nem precisou andar muita na sala: enquanto estava na primeira fileira, alunos de outras filas corriam desesperados tentando apagar as "provas dos seus delitos", rasgando folhas, apagando correndo o conteúdo transcrito. Qual a postura da Professora? Mandou que todos fechassem o Vade Mecum e avisou que enquanto ela lecionar pra gente, a consulta estaria vedada.

Talvez a Professora nem tenha percebido, mas eu não deixei de notar, (e aqui preciso fazer uma consideração importantíssima: nunca me coloquei como a corporificação da ética, mas nunca também tentei vender aquilo além de quem sou). Sou uma pessoa cheia de dilemas, pecados escondidos e neuras, mas sempre desconfiei de discursos morais demais, santos demais.

E essa minha desconfiança se comprovou quando ci que aqueles que foram pegos colando, ou que eu observava apagando a cola do Vade Mecum, são os mesmos que pedem a cabeça da Dilma, que falam em Mensalão, que repercutem o discursos "rachelsheherazadiano" do "amarre no poste, está no crime porque quer".

Aí fico me perguntando: são esses(as) alunos(as) que defenderão pessoas em breve? São esses profissionais que mudarão rumos de vida apenas com uma canetada?

Claro que essa é uma questão retórica, pois esses alunos também farão parte da política que tão veementemente reprovam.

Não estamos mais no Ensino Fundamental. Já não estamos mais na idade de pensarmos que levar vantagem é virtude. Não sei se muitos na sala notaram, mas ali é um lugar para se exercitar a reflexão. Que esse episódio sirva para refletirem que se bandido bom é bandido morto, colar é tão criminoso quanto furtar um toca-fitas de carro. Só não desejo o poste a eles, mas o arrependimento fruto dessa reflexão.